Copa do Brasil 2025: Cruzeiro silencia a Arena MRV e abre 2 a 0 no Atlético-MG
Clássico é pressão, barulho e nervo à flor da pele. Em Belo Horizonte, quem suportou tudo isso melhor foi o Cruzeiro. Com um segundo tempo cirúrgico, o time celeste venceu o Atlético-MG por 2 a 0 na Arena MRV, na ida das quartas de final da Copa do Brasil 2025, e levou para o jogo da volta uma vantagem que pesa muito em mata-mata.
O primeiro tempo foi duro, com marcação forte dos dois lados e chances repartidas. Hulk tentou puxar o Galo, Scarpa buscou o último passe, e Matheus Pereira achou espaços entre linhas para o Cruzeiro. Faltou capricho nas finalizações e sobrou duelo físico. Na volta do intervalo, a história mudou: o time de Leonardo Jardim ajustou a pressão e acelerou as transições. Deu resultado.
Fabrício Bruno abriu o placar em grande estilo, em jogada que expôs a desatenção da defesa atleticana. O zagueiro apareceu na área como quem conhece o caminho e bateu firme. Pouco depois, ele virou garçom: assistência precisa para Kaio Jorge, que já vinha infernizando os zagueiros, ampliar. Dois golpes secos, que esfriaram a Arena MRV e deixaram o Cruzeiro confortável na eliminatória.
O placar não caiu do céu. O Cruzeiro controlou melhor os momentos do jogo, baixou o ritmo quando precisou e acelerou quando viu o Atlético desorganizado. Do outro lado, o Galo sentiu o golpe, adiantou as linhas, mas esbarrou em um bloqueio bem armado e em Cássio, seguro nas bolas aéreas e nos chutes de média distância.

O jogo, as escolhas e o que muda para a volta
Cuca mandou a campo Everson; Natanael, Vitor Hugo, Junior Alonso e Guilherme Arana; Alan Franco, Gabriel Menino e Gustavo Scarpa; Cuello, Rony e Hulk. Um 4-3-3 para ter Scarpa como cérebro, Hulk como referência móvel e a ultrapassagem de Arana no corredor esquerdo. Funcionou por 45 minutos, enquanto o fôlego e a organização se sustentaram.
Leonardo Jardim respondeu com Cássio; William, Fabrício Bruno, Villalba e Kaiki Bruno; Lucas Romero, Lucas Silva e Christian; Matheus Pereira, Wanderson e Kaio Jorge. Na prática, um 4-3-3 que virava 4-2-3-1 com Matheus Pereira flutuando por dentro. Romero segurou as coberturas, Lucas Silva deu saída limpa e Christian mordeu a segunda bola. Com a bola, amplitude pelos lados; sem a bola, bloco médio compacto e pressão orientada no passe para os volantes do Galo.
Os lances decisivos nasceram de leituras táticas. No primeiro gol, o Cruzeiro explorou o espaço entre lateral e zagueiro, atraindo a marcação de um lado e atacando o outro. No segundo, a equipe celeste pegou o Atlético desarrumado após perda de bola, com Kaio atacando o espaço nas costas da linha e finalizando com frieza. Jardim mexeu pouco na estrutura, mas ajustou comportamento: mais agressividade na primeira pressão e ataques diretos quando recuperava.
Individualmente, o jogo premiou quem foi mais inteiro. Fabrício Bruno viveu tarde de protagonista dos dois lados do campo. Kaio Jorge, muito móvel, cansou a zaga com diagonais e apoios, além do gol. Matheus Pereira foi o elo entre meio e ataque, recebendo entre linhas e girando o jogo. Do lado atleticano, Arana foi a válvula de escape até perder fôlego, enquanto Scarpa procurou soluções pelo passe. Hulk, sempre perigoso, ficou isolado em muitos momentos e teve pouca clareza para decidir.
Não faltou tensão. O clássico teve divididas pesadas, discussões e paralisações que quebraram o ritmo. A arbitragem segurou o jogo com cartões pontuais e conversa, sem grandes interferências no resultado. A Arena MRV empurrou, mas o Cruzeiro foi frio o bastante para baixar o volume da partida quando a pressão subiu.
O peso do resultado vai além da vantagem no placar. Em mata-mata, dois gols fora de casa mexem com a cabeça. Pelo regulamento, não há gol qualificado: valem os gols no agregado. Ou seja, o Atlético precisa vencer por dois gols para levar a decisão aos pênaltis; por três ou mais, se classifica no tempo normal. O Cruzeiro pode até perder por um e ainda assim avança. É o tipo de cenário que muda a abordagem do jogo da volta.
Contexto importa. O Clássico Mineiro tem histórico recente forte na Copa do Brasil. Em 2014, o Atlético levou a melhor na final. Em 2019, o Cruzeiro avançou no confronto das oitavas. A cada reencontro, o roteiro muda, mas a pressão é sempre a mesma: detalhes definem. Desta vez, o detalhe foi a eficiência cruzeirense na meia hora decisiva do segundo tempo.
Para o Galo, a lição é clara: precisa proteger melhor as costas dos laterais, acertar o tempo de pressão no meio e dar mais apoio a Hulk. Scarpa e Menino precisam de linhas de passe mais próximas, e Arana não pode carregar o corredor sozinho. A bola parada defensiva também pede atenção, depois do gol sofrido.
Para o Cruzeiro, o sinal é positivo, mas não é hora de relaxar. A equipe mostrou maturidade para jogar fora, segurança na primeira linha com Fabrício Bruno e Villalba, e um meio-campo que equilibrou força e passe. Fica a missão de repetir a entrega no jogo da volta e não se encolher demais — porque chamar o Atlético para o campo de defesa por 90 minutos é convite ao sufoco.
O ambiente do clássico contou a história: arquibancadas cheias, expectativa no pré-jogo, análises acaloradas no pós. A torcida do Cruzeiro saiu em festa com a vitória fora; a do Atlético cobrou reação imediata. Em redes sociais e mesas de bar, o debate já está posto: o Cruzeiro foi muito superior ou o Atlético se perdeu na proposta? A resposta costuma ficar no meio — mérito de um, erros do outro.
O calendário segue apertado, com compromissos de Brasileirão no meio do caminho e pouco tempo para ajustes profundos. Vai pesar a recuperação física, o treino fechado de bola parada e a escolha certa de quem começa e quem entra para mudar jogo. Banco decide mata-mata, e a volta promete escolhas mais ousadas dos dois lados.
O que ficou registrado da ida:
- Placar: Atlético-MG 0 x 2 Cruzeiro, na Arena MRV.
- Gols: Fabrício Bruno (CRU) e Kaio Jorge (CRU).
- Destaque: solidez defensiva do Cruzeiro e eficiência nas transições.
- Cenário da volta: Atlético precisa de dois gols para levar aos pênaltis; três para virar a série no tempo normal.
A série está aberta, mas a vantagem é grande. O Cruzeiro volta para seu mando com controle do tabuleiro. O Atlético chega mordido, sabendo que precisa ser intenso e preciso desde o primeiro minuto. Clássico assim costuma entregar drama — e essa eliminatória ganhou cara de jogo grande.