O remake de 2025 da novela clássica 'Vale Tudo' trouxe mudanças significativas que refletem uma atualização na narrativa e nos personagens centrais. Na versão original de 1988, um marco do encontro romântico entre Raquel e Ivan ocorria quando Ivan, interpretado por Antonio Fagundes, devolvia a carteira de Raquel, vivida por Regina Duarte. Essa cena era icônica e simbólica, marcando o início do envolvimento amoroso dos personagens.
No entanto, a roteirista Manuela Dias propôs uma reimaginação deste momento crucial, substituindo a carteira por uma bolsa. Neste novo cenário, Ivan, agora interpretado por Renato Goés, recupera a bolsa de Raquel, interpretada por Taís Araujo, após um assalto. Esta alteração não é apenas um detalhe cosmético, mas sim uma escolha narrativa que visa destacar a nova postura da protagonista.
A Raquel de Taís Araujo é mais ativa e destemida. Logo no primeiro episódio, ela fisicamente confronta seu ex-marido, algo que contrasta fortemente com a versão original, onde Raquel era apresentada de forma mais passiva. Este é apenas um exemplo de como a nova produção busca subverter expectativas passadas e dar mais agência às personagens femininas.
Outra diferença marcante entre as duas versões é o foco da narrativa. Enquanto a versão de 1988 estava imersa em comentários sócio-políticos, o remake opta por uma abordagem mais intimista, enfatizando conflitos pessoais, especialmente a dinâmica mãe-filha. A escolha por diminuir a crítica social em favor de uma narrativa mais centrada em personagens pode ser vista como um reflexo dos tempos atuais, onde a televisão frequentemente busca aprofundar a exploração das complexidades individuais.
No entanto, essa mudança não passou sem críticas. Parte do público sente falta das discussões políticas que estavam tão presentes na versão original. A modernização do diálogo e dos cenários visa atrair uma audiência que se conecta mais com as realidades contemporâneas, mas isso pode deixar de lado aspectos que eram valiosos para fãs de longa data.
Em suma, o remake de 'Vale Tudo' é uma tentativa de levar uma obra clássica a novos horizontes, equilibrando o respeito por sua origem com inovações necessárias para atrair a nova geração de telespectadores. As mudanças nos encontros de Raquel e Ivan são apenas a ponta do iceberg em uma adaptação que continua a provocar discussões sobre fidelidade, relevância e evolução artística.
bruno DESBOIS
abril 7, 2025 AT 19:13Essa troca da carteira pela bolsa é uma metáfora linda, mano. A carteira era um símbolo de dependência, de quem precisa ser salvo. Já a bolsa? É o equipamento da mulher que tá na luta, que perdeu tudo e ainda assim segura o que é dela. Foi um detalhe simples, mas que diz tudo.
Se a Raquel original era a vítima que virava heroína, a nova é a heroína que nunca deixou de ser humana. E isso é muito mais real.
Eu chorei quando ela deu o tapa no ex. Não por drama, mas porque eu já vi mulheres fazendo isso. Sem música de fundo, sem câmera lenta. Só raiva pura e dignidade.
Essa versão não quer nos fazer sentir saudade. Quer nos fazer sentir presente.
Bruno Vasone
abril 8, 2025 AT 09:35Essa nova Raquel é só uma versão moderna de mulher perfeita que não existe. Tudo muito forçado. O original tinha alma, esse aqui é um comercial de Netflix com discurso de gênero.
Daniela Pinto
abril 9, 2025 AT 01:27É interessante observar como a transição da narrativa de macro para micro estrutura reflete uma episteme contemporânea: o sujeito pós-moderno não se identifica mais com o coletivo político, mas com a interioridade emocional. A bolsa, nesse sentido, funciona como um objeto transicional - não apenas um bem material, mas um extensor da agência feminina. A cena do assalto não é um evento, é uma performance de resistência simbólica.
Essa mudança não é superficial, é epistemológica. E isso exige uma reconfiguração da recepção crítica. Quem ainda pede 'política' na novela não entendeu que a política agora está no corpo, na voz, no gesto.
Diego Basso Pardinho
abril 9, 2025 AT 07:47Eu entendo o lado de quem sente falta da crítica social da versão antiga. Mas acho que a gente está confundindo 'relevância' com 'presença de temas políticos'. A novela de 88 falava de corrupção, desigualdade, abuso de poder - tudo isso ainda existe, mas agora a gente vê isso nas ruas, nas redes, nos noticiários. A novela hoje tem outro papel: mostrar como essas estruturas pesam na vida das pessoas, na relação entre mãe e filha, na dor de quem é invisibilizada mesmo sem ser perseguida pelo regime.
A Raquel de Taís não é 'idealizada'. Ela é resistência com calos na mão e medo no olhar. E isso é mais corajoso do que qualquer discurso de palco.
André Romano Renon Delcielo
abril 11, 2025 AT 01:22Putz, agora a mulher tem que ser guerreira, forte, independente e ainda por cima bonita? Cadê a mulher que chora, que erra, que pede ajuda? Tá tudo tão perfeito que parece mentira.
Na original, Raquel era uma merda, mas era real. Agora ela é um avatar de feminismo de Instagram. E o Ivan? Virou um cara fofo que devolve bolsa e já vira herói? Sério?
Se quiserem fazer uma nova versão, faça uma que não tenha medo de mostrar que mulher também pode ser fraca, vingativa, ciumenta... e ainda assim humana. Não esse monstro perfeito com iluminação de revista.
Rafael Oliveira
abril 11, 2025 AT 10:31Acho que o problema não é a mudança em si, mas a falta de autenticidade na execução. O original tinha uma densidade moral que hoje parece esquecida. Não é só trocar a carteira por uma bolsa - é preciso ter coragem de mostrar que a luta de Raquel não é heroica, é suja. Que ela usa o amor como arma, que ela se vende, que ela se corrói.
Agora, tudo é 'empoderamento'. Mas empoderamento sem pecado é só propaganda. A verdadeira força não está em não cair, mas em cair e continuar sendo um lixo - e ainda assim se levantar. E isso, infelizmente, não foi explorado.
Fernanda Souza
abril 12, 2025 AT 09:36Se vocês estão achando que a Raquel nova é 'perfeita', tá errado. Ela é complexa. Ela não é um símbolo, é uma pessoa. E isso é o que importa. Não precisamos de heroínas de conto de fadas. Precisamos de mulheres que parecem reais, que têm medo, que erram, que se arrependem, que brigam e depois pedem desculpa.
Essa versão está certa. Não por ser moderna, mas por ser humana. E isso é mais revolucionário do que qualquer discurso político.
Miguel Sousa
abril 12, 2025 AT 15:38Essa nova versão é uma vergonha. Tudo foi contaminado pelo politicamente correto. Na minha época, mulher era mulher, homem era homem. Agora tem que ser 'empoderada', 'autônoma', 'não passiva'... tudo isso é besteira. O original era brasileiro de verdade. Esse aqui é um produto pra exportar pro Ocidente.
Se quiserem fazer remake, façam igual. Não precisam de bolsa, precisam de raça. E essa Taís Araújo tá linda, mas tá fingindo ser forte. A Regina Duarte era força pura, sem discurso. Só existia.
Adílio Marques de Mesquita
abril 13, 2025 AT 05:02Essa mudança da carteira para a bolsa é uma referência direta à estética da pós-modernidade: o objeto pessoal como extensão da identidade. A carteira era um símbolo de pertencimento ao sistema - dinheiro, documentos, identidade social. A bolsa? É o espaço de afetos, memórias, objetos íntimos, ferramentas de sobrevivência. É uma transição do econômico para o existencial.
Além disso, o assalto como cenário de encontro é um recurso narrativo que dialoga com o cinema neorrealista brasileiro - pense em 'O Bandido da Luz Vermelha' ou 'Central do Brasil'. A violência cotidiana se torna o palco da intimidade. É genial.
Quem critica essa mudança não está vendo a profundidade. Está vendo só o que quer ver: a nostalgia como refúgio. Mas a arte não é para confortar. É para desafiar.