Alok ao vivo: Multishow e Globoplay exibem “AUREA TOUR – Keep Art Human” no Pacaembu

Alok ao vivo: Multishow e Globoplay exibem “AUREA TOUR – Keep Art Human” no Pacaembu

Quando a música vira manifesto: o Pacaembu em modo instalação

Um show de música eletrônica virou debate público sobre inteligência artificial em horário nobre. Multishow e Globoplay transmitiram ao vivo, direto do Estádio do Pacaembu, o espetáculo “AUREA TOUR – Keep Art Human”, de Alok, no sábado (28), a partir das 19h15, com apresentação de Guilherme Guedes. O set que chamou atenção no Coachella ganhou tempero brasileiro, novos elementos e um discurso ainda mais claro: tecnologia sim, mas sem abrir mão da alma humana.

“Keep Art Human” é o fio condutor. O DJ tem repetido que a IA deve ser uma aliada do artista, não um substituto. No palco, a mensagem veio com imagem e som. Drones sincronizados desenharam figuras no céu, as luzes contornaram o estádio e a plateia se viu dentro de uma espécie de instalação viva, em que cada batida guiava um gesto, um formato, uma ideia. O manifesto não ficou em fala de bastidor; virou linguagem cenográfica.

A transmissão ampliou esse impacto. Câmeras focaram tanto na experiência coletiva quanto nos detalhes de palco, destacando a escala do projeto. O público em casa recebeu uma narrativa visual pensada para TV e streaming, que aproximou os efeitos do “ao vivo” sem perder a dimensão grandiosa do Pacaembu.

Os convidados ajudaram a ancorar o conceito. Gilberto Gil, referência máxima da música brasileira, levou presença e história; Zeeba, parceiro frequente, reforçou a conexão entre pop e eletrônico. A noite também abriu espaço para vozes que muitas vezes ficam à margem: Célia Xakriabá, Mapu Huni Kuin, Owerá e os Bro’s MCs subiram ao palco, num encontro entre beats contemporâneos e raízes indígenas. O recado foi direto: tecnologia, sim — mas conectada à natureza, à cultura e às pessoas.

O Urban Theory, com cerca de 50 dançarinos, transformou o gramado em um painel humano. As coreografias com braços e linhas geométricas criaram figuras em tempo real, como se a plateia assistisse a uma interface viva. A precisão dos movimentos conversou com a precisão dos drones, costurando o tema central do show: quando máquinas e gente trabalham juntas, a arte ganha outros alcances, sem perder o gesto humano que dá sentido a tudo.

Durante a exibição, o artista voltou ao ponto-chave do projeto: emoção, intenção e criatividade nascem da essência humana. IA pode acelerar processos, sugerir caminhos, criar variações. Mas é o olhar — e a responsabilidade — do criador que define o que fica, o que toca, o que vira memória. É a fronteira entre ferramenta e autoria que o projeto tenta traçar, com música e espetáculo.

O que foi ao ar, os bastidores e por que isso importa agora

O que foi ao ar, os bastidores e por que isso importa agora

Multishow e Globoplay exibiram o show ao vivo no sábado (28), às 19h15, direto do Pacaembu. Para quem prefere TV aberta, a Globo em São Paulo programou um compacto com os melhores momentos para ir ao ar no sábado, 19 de julho, logo após o Altas Horas. O objetivo foi ampliar o alcance: quem não conseguiu estar no estádio ainda teria uma janela para ver — e sentir — o que foi preparado para a turnê.

Essa escolha de distribuição diz muito sobre o momento da música ao vivo no Brasil. O espetáculo nasceu para arenas e festivais, mas foi adaptado para a experiência multiplataforma. Ao vivo, a pulsação coletiva. Na TV e no streaming, um recorte mais narrativo, que organiza os elementos técnicos — coreografias, drones, cenografia — para que a mensagem chegue clara, em tela pequena ou grande.

Há também o timing do debate. A IA já compõe melodias, recria vozes, replica timbres. O mundo da música tenta responder: quem é dono de quê? Como remunerar criações híbridas? Onde entram ética e segurança quando a tecnologia imita um artista real? No show, essas perguntas não viraram palestra. Viraram estética: colaboração entre humano e máquina, com o artista no comando.

O desenho cênico apostou em camadas. Primeiro, o impacto visual: drones e luzes coreografados, formando padrões que conversavam com a música. Depois, a presença humana como contrapeso: dançarinos em bloco, braços marcando figuras que lembravam glitch, pixel, mosaico — só que orgânico. Por fim, os convidados: pontes entre gerações, gêneros e culturas, dando textura ao que poderia ser apenas um grande set eletrônico.

O Pacaembu, por sua vez, funcionou como personagem. Sua arquitetura ajuda a criar profundidade nas imagens e a devolver o som para a plateia de um jeito mais envolvente. Em telões, detalhes de rosto e gesto aproximaram o público das ideias do projeto — “keep art human” e “art needs soul” — que apareceram como frases e como prática cênica.

No discurso de bastidores traduzido para o palco, pesou a noção de responsabilidade. Se a IA acelera, quem freia? Se a IA amplia, quem recorta? O show defende que esse “quem” continua sendo o criador, com seu repertório de experiências e escolhas. A tecnologia, ali, não é truque, é instrumento — parte de uma orquestra maior que inclui gente, história e contexto.

Principais pontos da noite:

  • Quando e onde: exibição ao vivo de São Paulo, direto do Estádio do Pacaembu, no sábado (28), a partir das 19h15.
  • Quem apresentou: transmissão ancorada por Guilherme Guedes no Multishow e no Globoplay.
  • Convidados: participações de Gilberto Gil, Zeeba, Célia Xakriabá, Mapu Huni Kuin, Owerá e Bro’s MCs.
  • Conceito: “Keep Art Human” — IA como aliada, com o humano no centro da criação.
  • Cena de impacto: drones sincronizados e coreografias do Urban Theory, com cerca de 50 dançarinos, formando um “painel humano”.
  • TV aberta: compacto de melhores momentos programado pela Globo em São Paulo para o sábado, 19 de julho, após o Altas Horas.

Não foi só entretenimento gigante. Foi uma tentativa de colocar, literalmente, no céu e no gramado, um assunto que costuma ficar restrito a laboratórios e fóruns. Entre batidas, luzes e vozes, a proposta foi simples: lembrar que toda revolução tecnológica que mexe com a arte precisa, antes, passar pelo coração de quem cria — e de quem assiste.